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A maioria de nossas viagens é feita para nos tirar um pouco das tensões do dia a dia, relaxar e espairecer. Sim… quase sempre. Porque se o destino é a Polônia, não é bem assim. Como eu já comentei nos outros posts aqui, este país é cheio de história, encantos e gente simpática. Mas foi lá que eu tive uma das experiências mais chocantes da minha vida. Um banho de realidade mais triste e cruel.

Incluímos Auschwitz em nosso roteiro e fomos sem saber muito bem como seria essa visita.

Como chegar

Fomos de carro. São 70km saindo da Cracóvia e a viagem leva cerca de 1 hora. Mas se você não pretende ir de carro, veja outras opções:

Excursão

É a opção mais prática, mas também a mais cara. Você vai e volta com eles. As empresas geralmente oferecem o transporte e a visita guiada (normalmente em inglês ou espanhol) dentro dos campos. Custa em torno de R$ 140 por pessoa.

Trem

O primeiro trem saindo da estação central da Cracóvia parte às 7h e chega em Oświęcim (estação mais próxima de Auschwitz) às 9h.
De Oświęcim até o campo você pode ir caminhando (em torno de 2km) ou de ônibus, que sai de um ponto em frente à estação. Os preços e horários atualizados você pode conferir aqui.

Ônibus

Também saem da estação central da Cracóvia e param na estação central de Oświęcim. Mas alguns deles – os que tiverem escrito uma parada em “Oświęcim, (Muzeum) ul.Leszczyńsk” – param lá na entrada do campo de concentração. Os preços e horários atualizados você pode conferir aqui.

A visita

Para entrar é preciso passar por um controle de segurança, como aqueles que a gente passa nos aeroportos. Segundo eles, o sistema é rigoroso para evitar possíveis ataques terroristas aos campos.

Chegamos no início da tarde, as instalações já estavam mais vazias, mas a quantidade de visitantes que já estavam saindo do museu era impressionante.

Como é de se esperar, o museu não visa lucro e a entrada é gratuita. Paga-se apenas se você quiser fazer o tour guiado, neste caso, são 60zl (cerca de R$ 60).
No horário que chegamos não havia nenhum disponível, por isso, fizemos a visita sozinhos. Mas não tivemos nenhum problema. Todas as instalações possuem placas bem explicativas e logo na entrada a gente pode retirar um guiazinho (disponível em vários idiomas – inclusive português) que nos ajudou a entender a história por trás de cada lugar que a gente passava.

Dica: Se você vai fazer a visita sozinho, reserve sua vaga no site oficial. É que as vagas para visitas individuais por dia são limitadas. Nós não sabíamos disso e corremos o risco de chegar lá e não conseguir fazer a visita, mas tivemos sorte e havia disponibilidade.

A visita inclui os dois campos de concentração: Auschwitz I e Auschwitz II – Birkenau. Mas eles não ficam no mesmo lugar. Se você optar por fazer a visita sozinho – mas não estiver de carro, pode pegar o ônibus gratuito que leva os visitantes de um campo a outro a cada 30 minutos.

O primeiro que visitamos foi o Auschwitz I, principal campo e centro administrativo do complexo.

É no portão de entrada deste campo que está a conhecida frase “Arbeit Macht Frei”, que significa: “O trabalho liberta”. Frase que, bem provavelmente, gerava uma triste e falsa esperança aos prisioneiros que chegavam ali durante a Guerra, já que, de todos os prisioneiros que passaram por Auschwitz I, apenas 300 conseguiram fugir. Aproximadamente 70 mil morreram.

Você sai de todo o alvoroço da entrada do museu e, ao passar por esse portão, a cada passo, o que domina é um silêncio profundo. Não existem palavras que expressem a energia, a vibração, e todas as sensações que percebemos ali.

Ao longo dos enormes corredores que percorríamos, víamos os grupos que acompanhavam seus guias e se mantinham super atentos às explicações detalhadas que recebiam através de fones de ouvido. E o guia seguia falando o mais baixo que podia, demonstrando respeito àquele lugar e a tudo o que as instalações representam.

O complexo de Auschwitz I possuía inicialmente 20 edifícios. Mas nos anos 1941 e 1942 foi expandido (pelos próprios prisioneiros) e passou a contar com 28 edifícios que chegaram a abrigar até 20 mil pessoas. É dentro desses edifícios, chamados “blocos”, que estão expostos todos os objetos, fotografias e documentos sobre a história de Auschwitz.

E é nas salas desses blocos que o nó na garganta vai ficando cada vez mais apertado. Nas salas do bloco 5, por exemplo, estão expostos os objetos pessoais que pertenciam aos condenados à morte: uma infinidade de sapatos, próteses, óculos, escovas, malas com nomes e endereços, cujos donos nunca retornaram para casa.

Um pouco mais adiante, outro bloco que se destaca é o 11, conhecido como “O bloco da morte” – apesar de todo o complexo merecer esse nome. Esse bloco funcionava como a “prisão dentro da prisão”, porque era ali onde aplicavam os castigos, fechando os prisioneiros em celas minúsculas, deixando que eles morressem de fome ou fossem executados no “paredão de execuções”, localizado entre os blocos 10 e 11.

Quase 3 horas depois que chegamos no campo, fomos até a parte que parecia ser a pior e mais pesada do dia: a câmara de gás. Entrar, olhar aquelas paredes e imaginar o que acontecia com todas aquelas pessoas foi aterrorizante. Foi difícil até de respirar.

Saindo da câmara de gás, resolvemos que era hora de ir até o segundo e maior campo de concentração: o Auschwitz II – Birkenau.

Já era finalzinho de tarde e o campo estava vazio. Vimos poucas pessoas caminhando entre os escombros e os afastados barracões do complexo.
Eu, que já estava completamente horrorizada com tudo que tinha visto naquela tarde, achava que não poderia me abalar mais. Grande engano. Auschwitz II é completamente assustador.
O que a gente vê quando chega ali é o quanto o potencial de matar deles aumentou. A área é cinco ou seis vezes maior. Era como se toda aquela tragédia que vimos em Auschwitz I fosse apenas um treinamento e a verdadeira fábrica de matar fosse ali, em Auschwitz II.
E a realidade é que no primeiro campo foram mortas 70 mil pessoas e, no segundo, mais de 1 milhão.

Para isso, existia não uma, mas quatro câmaras de gás com capacidade para 2.500 pessoas – as mortes simplesmente subiram para uma escala industrial.

Os milhares de prisioneiros chegavam de trem, que parava no interior do campo.
Só a viagem até os campos de concentração já era aterrorizante. O percurso era feito em vagões de carga, sem direito à comida ou bebida, e os prisioneiros ficavam amontoados durante 7 a 10 dias. Por isso, quando chegavam ao campo de concentração muitas crianças e idosos já estavam mortos.

Diferente de Auschwitz I, Auschwitz II – Birkenau não se tornou um museu. As instalações permaneceram intactas desde o fim da Guerra. Sendo que a maior parte (barracões, câmaras de gás, crematórios e documentos) foi destruída pelos nazistas no final da Guerra para esconder o que foi feito ali.

Em alguns momentos eu me sentia envergonhada. Envergonhada por estar ali, olhando por cima, vendo tudo o que aconteceu, com a “sorte” de poder ir embora quando eu quisesse. Envergonhada por minha “sorte”, pela vida tão fácil, tranquila e cheia de oportunidades que eu tenho e que aquelas pessoas passaram tão longe de ter.

Olha… foram muitos tapas na cara naquele dia. Por muito que se tenha lido ou visto em filmes, livros e salas de aula, nada descreve a sensação que se tem ao entrar nos campos de Auschwitz. Ver pessoalmente o que o ser humano é capaz de fazer foi aterrorizante, mas é extremamente importante que todos conheçam a história, para que não se repita os erros do passado. E, principalmente, para manter viva a memória dos que sofreram ali… e esquecer de uma vez por todas os comentários do tipo: “o Holocausto não existiu!”.

Até o próximo post,

postado por
Cleide
Paulistana de 28 anos residente em Tóquio. Começou sua jornada de descobertas na Europa, mas atualmente explora as diversidades do maior continente da terra, a Ásia!
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